Escalar galhos ou sentar-se nos ramos – Max Lucado
José estava firmemente sentado em seu ramo de árvore. Era um ramo grosso, confiável e perfeito como assento. Era tão forte que não tremia quando irrompiam as tempestades, nem sacudia quando sopravam os ventos. Não, esse ramo era previsível e sólido, e José não tinha intenção alguma de sair dali.
Isto é, até lhe mandarem subir num galho.
Estando ali, sentado a salvo em seu ramo, olhou para o galho que Deus desejava que ele escalasse. Nunca vira um galho tão fino! “Isso não é um lugar para um homem ir”, disse a si mesmo. “Não tem lugar para sentar. Não tem proteção contra o mau tempo. E como é que alguém dorme pendurado num graveto tremulante desse?”Recuou um pouco, apoiou-se no tronco, e analisou a situação.
O senso comum lhe dizia para não subir no galho. “Concebido pelo Espírito Santo? Ora, faça-me o favor!”
A autodefesa lhe dizia para ficar ali. “Quem vai acreditar em mim? O que nossas famílias vão pensar?”
A conveniência lhe dizia para não sair do lugar. “Logo agora que eu esperava acertar as coisas e criar uma família.”
O orgulho lhe dizia para ignorar o chamado. “Se ela pensa que vou acreditar numa lorota dessa…”.
Mas Deus lhe dissera para subir. E é isso que o incomodava.
Isso o incomodava porque ele estava feliz naquele lugar. A vida junto ao tronco era boa. Seu ramo era grande o suficiente para lhe proporcionar um assento confortável. Estava perto de vários sentadores de ramos e havia feito algumas contribuições válidas para a comunidade da árvore. Afinal de contas, não fazia visitas regulares aos doentes no Centro Médico do Ramo Norte? E não era ele o melhor tenor do Coral dos Cantores Arborizados? E o que dizer da aula que lecionava sobre herança religiosa, com o apropriado título “Nossa Árvore genealógica”? Certamente Deus não queria que ele saísse dali. Ele tinha…Bem, podia-se dizer que ele tinha criado raízes naquele lugar.
Alem disso, ele conhecia o tipo de gente que escalava galhos. Radicais. Extremistas. Liberais. Gente sempre exagerada. Sempre agitando as folhas. Sujeitos com a cabeça cheia de idéias estranhas, à procura de frutos esquisitos. Ora, os homens estáveis são aqueles que sabem ficar perto de casa e deixar essas coisas pré lá.
Tenho a impressão de que alguns de vocês se identificam com José. Sabem como ele se sente, não é? Vocês já estiveram ali. Estão sorrindo porque também já foram chamados a escalar um galho vez ou outra. Conhecem o desequilíbrio resultante dessa coisa de ter um pé na sua vontade e outro na vontade Dele. Vocês também já cravaram as unhas no tronco da árvore para se segurarem melhor. Sabem bem a sensação de ter o estômago se revirando quando percebem mudanças no ar.
Talvez haja mudanças no ar neste exato momento. Talvez você esteja no meio de uma decisão. É perturbador, não é? Você gosta do seu ramo. Acostumou-se com ele, e ele com você. E, tal como José, você tem sido um ótimo sentador de ramos. E é então que você ouve o chamado. “Preciso que você escale um galho e…
…tome uma posição.Um pessoal das igrejas locais está organizando uma campanha contra a pornografia. Eles precisam de voluntários.”
…mude-se. Pegue sua família e vá para outro continente; tenho um trabalho especial para você.”
…perdoe. Não importa quem feriu primeiro. O que importa é que você vá lá e construa a ponte.”
…evangelize. Sabe aquela nova família no quarteirão? Não conhece ninguém na cidade. Vá lá conversar com ela.
…sacrifique. O orfanato tem uma dívida a vencer este mês. Não tem como pagá-la. Sabe aquele bônus que você recebeu na semana passada?”
Seja qual for a natureza do chamado, as consequências são as mesmas: guerra civil. Ainda que seu coração diga sim, seus pés dizem não. Desculpas irrompem como folhas douradas no vento de outono. “Não tenho talento para isso.”É hora de outra pessoa assumir essa responsabilidade.””Agora não. Farei isso amanhã.”
Mas, no final, você acaba contemplando uma árvore desnuda e a difícil escolha: a vontade Dele ou a minha?
José escolheu a Dele. No fim das contas, era a única opção. José sabia que a única coisa pior que uma aventura rumo ao desconhecido era a idéia de dizer não a seu Mestre. Assim, resoluto, ele agarrou o galho menor. Com lábios cerrados e um brilho determinado nos olhos, pôs uma mão na frente da outra até ficar pendurado no ar,; a fé em Deus sendo sua rede de segurança.
Como se descobriria , os temores de José eram justificados. A vida já não seria confortável como antes. O galho que agarrou era, de fato, pequeno: O Messias nasceria de Maria e seria criado em sua casa. Durante nove meses, controlou os impulsos para que o bebe pudesse nascer de uma virgem. Teve de afastar as ovelhas e limpar a sujeira das vacas para que sua esposa tivesse um lugar para dar à luz. Tornou-se fugitivo da lei. Passou dois anos tentando entender a lingua egípcia.
Por vezes aquele galho deve ter balançado furiosamente ao romper dovento. José, porém, apenas fechava os olhos e segurava firme. Mas pode estar certo de uma coisa: ele nunca se arrependeu. Doce foi a recompensa pela sua coragem. Uma olhada no rosto daquele bebê celestial e num piscar de olhos ele sabia que faria tudo de novo.
Você já foi chamado por Deus para subir num galho? Pode apostar que não será fácil. Escalar galhos nunca foi fácil. Pergunte a José. Ou, melhor ainda, pergunte a Jesus.
Ele conhece melhor que ninguém o preço de ser pendurado numa árvore.